Periafricania
sexta-feira, 15 de novembro de 2013
sexta-feira, 1 de novembro de 2013
E depois das cotas?
Por Clarice Cardoso — publicado na
edição 78, de agosto de 2013
Uma aluna levanta a
mão para falar durante a aula em uma universidade carioca. A professora desvia
os olhos para, assim, não ter de dar voz àquela opinião. “Ela (a professora) já
sabia que eu era do pré-vestibular. (...) E parece que tem raiva!” O relato é
de um universitário negro e retrata uma de muitas vivências de preconceito
encontradas por beneficiários de programas de ação afirmativa.
O caso está relatado no livro Afrocidadanização, de Reinaldo da Silva
Guimarães, que, defendido, em 2007, como tese de doutorado, surgiu para
acompanhar o destino de alunos egressos dos cursos pré-vestibular comunitários
e populares, beneficiados por programas de ação afirmativa da Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), após a graduação.
A inclusão de alunos negros e pobres começou a partir de um convênio, feito em
1994, entre a universidade e o Movimento Social Pré-Vestibular para Negros e
Carentes (PVNC), o que permitiu que esses alunos pudessem ingressar em cursos
superiores com bolsas de estudo. Assim, centenas de negros oriundos de
comunidades carentes ganhavam a chance de frequentar as aulas na universidade.
Uma oportunidade capaz de mudar vidas, mas que esbarrariaainda em muitas outras
formas de racismo, como mostra uma situação já na abertura do livro.
Guimarães narra a história de um importante escritório de advocacia carioca que
pediu à PUC-Rio indicação de um bom candidato. Por orientação da universidade,
o aluno foi até o local deixar seus documentos e, ao voltar para incluir um
dado que esquecera, vê que alguém anotara no envelope a palavra “mulato”, que
ele risca e troca por “negro”.
No livro, o autor relata ainda as barreiras relacionadas a preconceito,
questões financeiras e acadêmicas que esses alunos enfrentaram. Ao longo das
páginas, vai consolidando a necessidade de programas de socialização e inclusão
social – uma reflexão ainda mais relevante com a nova lei das cotas, que prevê
a reserva de 50% de vagas nas universidades e institutos federais em quatro
anos. A relevância do estudo está no fato de mostrar a discussão sobre as cotas
da perspectiva de quem é beneficiário.
E, mais, mostrar o quanto o racismo permanece embrenhado na sociedade: mesmo os
que conseguem ultrapassar a barreira educacional, como os personagens do livro,
encontrarão obstáculos no futuro. “O problema estrutural do País não é
socioeconômico, é racial desde sempre, desde que chegaram os primeiros negros
escravizados.
É preciso resolver o problema da condição de desigualdade para, a partir daí,
resolver o econômico. É por isso que o foco das ações deve ser a questão racial
sim”, afirma Guimarães. Ele conclui: “O que se nota é que, para mudar essa
estrutura, precisamos sim de ações afirmativas. Quando você apresenta
oportunidades a um jovem carente, por exemplo, e elas ficam claras a partir do
exemplo de outros membros da família, isso é um fator transformador de cultura
e gerador de mobilidade e transformação social. As ações afirmativas têm esse
poder revolucionário”.
O caso está relatado no livro Afrocidadanização, de Reinaldo da Silva Guimarães, que, defendido, em 2007, como tese de doutorado, surgiu para acompanhar o destino de alunos egressos dos cursos pré-vestibular comunitários e populares, beneficiados por programas de ação afirmativa da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), após a graduação.
A inclusão de alunos negros e pobres começou a partir de um convênio, feito em 1994, entre a universidade e o Movimento Social Pré-Vestibular para Negros e Carentes (PVNC), o que permitiu que esses alunos pudessem ingressar em cursos superiores com bolsas de estudo. Assim, centenas de negros oriundos de comunidades carentes ganhavam a chance de frequentar as aulas na universidade. Uma oportunidade capaz de mudar vidas, mas que esbarrariaainda em muitas outras formas de racismo, como mostra uma situação já na abertura do livro.
Guimarães narra a história de um importante escritório de advocacia carioca que pediu à PUC-Rio indicação de um bom candidato. Por orientação da universidade, o aluno foi até o local deixar seus documentos e, ao voltar para incluir um dado que esquecera, vê que alguém anotara no envelope a palavra “mulato”, que ele risca e troca por “negro”.
No livro, o autor relata ainda as barreiras relacionadas a preconceito, questões financeiras e acadêmicas que esses alunos enfrentaram. Ao longo das páginas, vai consolidando a necessidade de programas de socialização e inclusão social – uma reflexão ainda mais relevante com a nova lei das cotas, que prevê a reserva de 50% de vagas nas universidades e institutos federais em quatro anos. A relevância do estudo está no fato de mostrar a discussão sobre as cotas da perspectiva de quem é beneficiário.
E, mais, mostrar o quanto o racismo permanece embrenhado na sociedade: mesmo os que conseguem ultrapassar a barreira educacional, como os personagens do livro, encontrarão obstáculos no futuro. “O problema estrutural do País não é socioeconômico, é racial desde sempre, desde que chegaram os primeiros negros escravizados.
É preciso resolver o problema da condição de desigualdade para, a partir daí, resolver o econômico. É por isso que o foco das ações deve ser a questão racial sim”, afirma Guimarães. Ele conclui: “O que se nota é que, para mudar essa estrutura, precisamos sim de ações afirmativas. Quando você apresenta oportunidades a um jovem carente, por exemplo, e elas ficam claras a partir do exemplo de outros membros da família, isso é um fator transformador de cultura e gerador de mobilidade e transformação social. As ações afirmativas têm esse poder revolucionário”.
quinta-feira, 31 de outubro de 2013
Racismo e Discriminação com Base na Religião e Crenças
O racismo, a xenofobia e a intolerância relacionada têm-se mostrado
difíceis de eliminar na Europa. A discriminação com base na origem
étnica continua generalizada nas áreas da habitação, do emprego e do
acesso a serviços, particularmente no setor privado. Os ataques racistas
perpetrados por atores não-estatais continuam a ser um problema em todo
o continente. O racismo dentro das agências que garantem o cumprimento
da lei manifesta-se seja na inadequação da extensão dos serviços e
proteção a membros das minorias étnicas vítimas de crime, seja em
maus-tratos e abusos de motivação racial.
Dois grupos que geralmente sofrem discriminação devido a uma série de
preconceitos justapostos são os Judeus e os Muçulmanos. Estes dois
grupos sofrem discriminação não só devido às suas origens étnicas e às
suas, muitas vezes presumidas e mal compreendidas, crenças religiosas,
mas também devido às suas supostas convicções políticas e
responsabilidade por eventos mundiais. A discriminação devido a estas
razões justapostas toma uma variedade de formas, desde ataques
violentos, interferências na liberdade de culto e expressão e negação da
igualdade de acesso ao emprego e a bens e serviços.
Para além das minorias tradicionais ou de longa duração, tal como a
etnia Roma, sucessivas vagas de emigração trouxeram à Europa, após a
Segunda Guerra Mundial, milhões de pessoas e muitas novas religiões,
culturas e costumes.
Infelizmente, a maioria dos países da Europa Ocidental fracassaram na
integração eficaz dos seus migrantes do pós-guerra e das novas minorias
étnicas, duma forma que garanta a fruição de todos os direitos humanos
e, simultaneamente, a preservação das diferenças sociais, culturais e
religiosas. Torna-se cada vez mais comum questionar a compatibilidade
das duas, com uma xenofobia fracamente disfarçada a apelar a uma maior
adoção dos costumes e valores das comunidades maioritárias.
A tolerância e o respeito devem ser, contudo, mútuas de forma a serem
significativas. E devem ser acompanhadas por uma igualdade de
oportunidades real. Isto ainda não foi bem sucedido em lugar algum.
Mesmo após três gerações, e muito depois da obtenção da cidadania,
membros de minorias étnicas visíveis ainda enfrentam discriminação,
desvantagens e exclusão em todas as áreas da vida.
A ascensão de partidos políticos de extrema direita (a posições de
poder, em muitos países), e a ubiquidade do discurso xenófobo são apenas
a face visível do preconceito que afeta o dia-a-dia quer de minorias
étnicas há muito estabelecidas quer de migrantes recentes.
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